


"Um pouco de paradiso, gemia eu, um instante apenas, um parêntese paradisíaco. Dias, semanas, meses de existência infernal. Ininterruptamente, em todos os lados. Agora era Coimbra, inferninho de merda." Herberto Helder
Agosto, aqui hoje o silêncio só perturbado quando queremos, quando nos fartamos do silêncio, quando é demais, quando é insuportável. As ervas crescem e dão conta das paredes, lá fora. Não vinha aqui há muito, apercebi-me. Comovedor. O quiosque distante percorrido para saber do mundo igualmente distante já não existe, agora vendem-se jornais com batatas. Nos carros de matrículas amarelas ninguém lê, gasta-se para o ano inteiro. Lá fora, crescem ervas e silvas que sobem a parede à altura da janela. Perturbo o silêncio. Quem se importa? Não quero pensar muito, é tarde, há vinho, brasas e frio lá fora e silvas e ervas que crescem. Não fosse a Maddie e não se passava nada este Agosto. Gosto, interesso-me todos os dias, leio com avidez, sabendo que nada se sabe e tudo se inventa, como é bom dar isso por certo, isso e o Eurostat e nós nas piores estatísticas a 15 ou a 27, tanto faz. Tenho pensado em ir, em ir para qualquer lado, estaria melhor do que aqui à procura de uma ideia milagrosa para sobreviver, este Agosto, aqui, onde crescem ervas e não se passa. “Eu teria amado os homens apesar do que são” disse Rousseau e está tudo dito.