31.7.07

Ou nós, os portugueses

"Em geral, nós, os russos, não fomos feitos para reuniões representativas. Em todas as nossas reuniões, desde o ajuntamento camponês até aos comités científicos de todo o género e outros, se não estiver ninguém à cabeça para gerir tudo, a confusão será sensível. É difícil dizer por que tal acontece: pelos vistos, é assim o feitio do nosso povo. Apenas são bem sucedidas as assembleias reunidas para festejar alguma coisa ou para comer, isto é, os clubes e os vauxhall à moda alemã. A disposição para fazer coisas, porém, existe certamente entre nós. Basta um súbito sopro de vento e logo organizamos sociedades de caridade, de incentivo e não sei que mais. O objectivo será maravilhoso, mas nada resultará. Talvez porque, de repente, logo no princípio nos demos por satisfeitos e achemos que já está tudo feito. Por exemplo, já temos nos cofres as consideráveis verbas doadas para organizar uma sociedade de beneficiência a favor dos pobres: para comemorar um acto tão louvável, oferecemos a todos os primeiros dignitários da cidade, de imediato, um almoço que obviamente nos leva metade do dinheiro do doado; com o restante, aluga-se um local excelente para a comissão, com aquecimento e guardas, e no fim restam cinco rublos e cinquenta copeques para os pobres, sobre os quais nem sempre todos os membros organizadores estão de acordo quanto à sua distribuição, já que há sempre alguém que faz passar à frente de todos uma comadre sua."
Nikolai Gógol, Almas Mortas

24.7.07

Propaganda

Aqui há dias foram os velhotes de Cabeceiras, sem saberem ao que iam, enfiados no autocarro rumo à capital. Agora são os miúdos figurinos que ganharam 30 euros em mais uma anunciação milagrosa para a educação.

Está bom de ver que no próximo cortejo ministerial haverá um "extra" para quem cumprir o papel direitinho e não abrir a boca às perguntas maldosas dos jornalistas. A máquina aperfeiçoa-se...

21.7.07

Mau, Mau, Mau

Factos:

1. Estudantes de Coimbra entregam ao PS um caixão para fazer o funeral anunciado do Ensino Superior. Só me admira os estudantes não se terem medito dentro do caixão. De resto, o PS agradece.

2. Alberto Martins. Antes, muito antes: símbolo da Crise Académica de 69. Hoje: líder dos cães-de-fila que votaram a lei.

3. Vítor Hugo Salgado (o Dodot, lembram-se?). Antes, ainda há pouco: Presidente da Associação Académica de Coimbra. Hoje: ratinho amestrado da bancada do líder dos cães-de-fila que votaram a lei.

4. E uma lei má demais para ser verdade. Infelizmente é.

20.7.07

Fúria

Tem oito carimbos a tinta preta de «Censura n.º 39», um a tinta vermelha «Censurado n.º 85» e três etiquetas autocolantes, que fechavam todas as margens, com letras garrafais impressas a preto «Aberto pela censura».

Biblioteca Nacional de Portugal

19.7.07

"parece-me estar definitivamente assente que as crianças de tenra idade e as crias dos animais mamam em tudo o que lhes venha à boca, devendo-se, pois, ensiná-las a mamar no devido lugar."
Lord Raglan

18.7.07

Paula Rego, "The Barn", 1994

Celeiro da alma, desejo infantil escondido, o seio, a teta, a mama omnipresente, deleite.

13.7.07

Idiotia

A propósito de idiotas, lembrei-me por causa do indígena de lisboa [VPV] hoje no "Público", quero deixar-vos esta belíssima descrição:

"Os idiotas têm sensibilidade rudimentar e pervertida, podem meter na boca tudo o que lhes aparece, mesmos as coisas mais nojentas. Não são capazes de ter atenção activa e, quando muito, a atenção pode ser atraída pelas impressões do momento e é fugaz. A fixação das recordações e a memória são rudimentares, porque as lembranças não coordenadas e não reinvocadas acabam por se esvair. Os seus conhecimentos não vão além daquilo que repetidamente chega aos seus sentidos e trata-se de um conhecimento mais do que superficial. Estão privados de crítica, de juízo, de conceitos. Os idiotas inferiores não são capazes de se exprimir com palavras ou exprimem-se com sons inarticulados ou com uma ou outra palavra estropiada. Alguns idiotas inferiores não são sequer capazes de rir ou de chorar e os seus desejos limitam-se à satisfação das necessidades fisiológicas. Estão quase sempre sujos: a saliva e o muco nasal sujam as roupas."

in Dicionário de Psicopatologia Forense

11.7.07

Flexisegurança ou simplesmente flexibufanço*?

Não percebo, farto-me de andar às voltas com isto e não percebo, é que flexi… há-a aos montes e por todo o lado desde que leis boas e más, mais más neste momento, se fazem e não se cumprem neste país. De que se queixam os cães gordos? A começar pelo patrão-Estado e indo por aí fora aos pequenos, médios e alarvemente grandes empresários, todos trazem na ponta dos dedos os trabalhadores, que não conhecem a segurança, agora feita rebuçado, p’ros calar.

Só quem nunca andou horas a fio nos corredores da segurança social, das finanças e dos centros de emprego é que não sabe que a “protecção social” em Portugal é uma “alucinação” dos senhores que percorrem outros corredores, esses sim, batidíssimos em flexisegurança: de presidente da junta para vereador, de vereador e, passando por alguma empresa municipal, para deputado da nação, de deputado para secretário de estado ou chefe de gabinete ou assessor, daí para ministro e de ministro, com provas dadas em má gestão e compadrio, para presidente de algum importante organismo nacional ou internacional ou mesmo para testa-de-ferro dalgum desses grandes monopólios.

Ora, não nos enganem! A flexisegurança não quer dizer nada, não existe e nunca vai aterrar na OTA!

*Flexibufanço, que se ponha no dicionário, como a nova política laboral dos tempos da outra senhora posta em prática de maneira efectiva e não desmentida pelo XVII Governo Constitucional.

O calor consola-me tanto que me mata.
Tenho que agarrar o vento para que não me falte o ar. Circular o Calor.
"Yet held I not this very wind - bound fast
Within the castle of my soul I would
For very faintness at her parting, die"
Ezra Pound
Mas as minhas mãos são torradas com suor.
(suor meio-sal por causa do coração).
Fico com as palavras - valiosas como senhas de cantina.
Pronto.
Vou ao Chinês comprar uma ventoinha.

4.7.07

Dúvidas que me infernizam neste dia da Rainha Santa Isabel

- A Rainha usava saltos altos?

- Se sim quem os fazia? E quem os desenhava?

- Ela tornou-se Santa porque enganava o marido? Ou porque teve a colaboração de Deus nessa tarefa?

- De que cor eram as rosas?

- No meio das rosas não haveria migalhas, ou farinha?

- Porque é que dava pão quando, certamente, teria lombos de boi na mesa?

Alguém me ajude, estas dúvidas são torturas para a minha pobre cabecinha.

O milagre de desobedecer ao marido


- Que tendes no vosso regaço?
- São rosas, senhor.

3.7.07

Abençoado clima


Que inferno! Não há sol, não há calor, só esta chuva-molha-tolos, o ar abafado e o céu que não desanuvia. /Não, não menina! O clima está muito bem para o clima que se vive no país do respeitinho, tudo em consonância, tudo morno, ninguém mija fora do penico e além do mais o sol faz mal à cabeça. /Além do mais é o ministeriado que se fica a rir, pois já ardeu não sei quantas vezes menos do que nos anos anteriores. / P'ra quem ficam os louros?
São de merda as correias com que me prendo neste inferninho. São as merdas de cada dia, cada vez mais dia, cada dia mais merda. Este blog é para falar de correias em correntes palavras-frases que não me saem da garganta. Talvez saiam pelos dedos…