28.8.07

26.8.07

É p'ro creeeeeeeeeeedito!

Esta história do empréstimo ao estudante universitário, "automático", sem garantias, no valor máximo de 25 mil euros, é mais areira para os olhos lançada por este governo. É areia lançada com a retórica de que haverá "melhores condições de acesso ao ensino superior e mais condições de justiça social e igualdade de oportunidades", quando na realidade se somam sucessivos cortes nos orçamentos das universidades, as propinas não páram de subir (temos das mais altas da Europa, aliás!) e a acção social, como se sabe, é mísera e insuficiente para garantir a igualdade no acesso ao ensino superior.

Ao contrário do que já li por aí, não são os filhos dos ricos que se vão servir do crédito, são os pobres, os mais pobres, os que não têm outra hipótese, os que iludidos por uma solução facilitista vão hipotecar o futuro. É escandaloso que num país como o nosso, onde temos milhares de desempregados licenciados, onde os salários são baixíssimos, onde aos 30 e 40 anos há gente a morar em casa dos pais por não suportar as despesas de uma habitação própria, o governo crie um crédito com estas características. Um ano depois do curso terminado, o licenciado paga (e fazendo as contas, nunca será menos de 400 euros por mês!), quer tenha emprego quer não, num prazo de 6 anos, o preço por ter tirado um curso. Mesmo que tenha um emprego, não chega, não dá, pois ganha em média 700 euros, muitas vezes a recibo verde.

Continuamos a fazer as mesmas borradas do passado, continuamos a não investir nas pessoas, na formação, na educação, na investigação e na cultura! E quem se lixa são sempre os mesmos, os mais pobres, os cada vez mais pobres.

A última crónica


Desapareceu Eduardo Prado Coelho, é hora de revisitar, não vai haver mais, gostava de ir pela última página, era sempre por ali que começava, depois pelo meio e, agora mais difícil, não vai haver mais.

Ai que saudades!

21.8.07

Agosto

Agosto, aqui hoje o silêncio só perturbado quando queremos, quando nos fartamos do silêncio, quando é demais, quando é insuportável. As ervas crescem e dão conta das paredes, lá fora. Não vinha aqui há muito, apercebi-me. Comovedor. O quiosque distante percorrido para saber do mundo igualmente distante já não existe, agora vendem-se jornais com batatas. Nos carros de matrículas amarelas ninguém lê, gasta-se para o ano inteiro. Lá fora, crescem ervas e silvas que sobem a parede à altura da janela. Perturbo o silêncio. Quem se importa? Não quero pensar muito, é tarde, há vinho, brasas e frio lá fora e silvas e ervas que crescem. Não fosse a Maddie e não se passava nada este Agosto. Gosto, interesso-me todos os dias, leio com avidez, sabendo que nada se sabe e tudo se inventa, como é bom dar isso por certo, isso e o Eurostat e nós nas piores estatísticas a 15 ou a 27, tanto faz. Tenho pensado em ir, em ir para qualquer lado, estaria melhor do que aqui à procura de uma ideia milagrosa para sobreviver, este Agosto, aqui, onde crescem ervas e não se passa. “Eu teria amado os homens apesar do que são” disse Rousseau e está tudo dito.

13.8.07

Coimbra


[Excertos]


"Nenhuma outra cidade como Coimbra testemunha tão completamente, na sua pobreza arquitectónica, na sua graça feita de remendos e pitoresco, nos seus recantos sujos e secretos, os limites da nossa capacidade criadora, a solidão da nossa alma, e o jeito camponês com que nascemos para tirar efeitos cénicos do próprio gesto de erguer uma videira."

"Na índole do que ensina, existe, persiste, a marca das coisas cabeçudas e provincianas. O tratado reduz-se a sebenta, a tradição a praxe, o saber a erudição. Não há um invento, uma ideia, uma teoria que tenha nascido ali. Mas nem os inventos, nem as ideias, nem as teorias são necessárias a uma Universidade que se basta no simples facto de o parecer aos olhos da ignorância colectiva. Por isso se defende com unhas e dentes de toda a originalidade, de todo o pensamento subversivo, recusando-se obstinamente a pôr de lado a borla e o capelo da mistificação, e a abrir nos seus muros medievais um postigo sequer que deixe entrar qualquer luz actual. Seria o pânico, a catástrofe, a desautorização. E sempre que algum reformador exaltado faz obras e remove estatutos, o instinto de conservação repõe sornamente o musgo secular nas cátedras da sapiência."

Miguel Torga, Portugal

Palavras-de-pedra que nos ficam.

8.8.07


Aos loucos chega do céu uma só luz que causa dano
e se abriga nas suas cabeças formando um ninho de
serpentes
onde invocar o destino dos pássaros
cuja cabeça leis desconhecidas para o homem regem
e que governam também este trágico bordel
onde as almas se acariciam com o beijo da porca,
e a vida treme nos lábios como uma flor
que o vento mais sedento empurrara sem cessar
pelo chão
donde se conclui o que é a vida do homem.

Leopoldo María Panero, Poemas do manicómio de Mondragón

e pintura de Mário Botas, Auto-Retrato