[Excertos]
"Nenhuma outra cidade como Coimbra testemunha tão completamente, na sua pobreza arquitectónica, na sua graça feita de remendos e pitoresco, nos seus recantos sujos e secretos, os limites da nossa capacidade criadora, a solidão da nossa alma, e o jeito camponês com que nascemos para tirar efeitos cénicos do próprio gesto de erguer uma videira."
"Na índole do que ensina, existe, persiste, a marca das coisas cabeçudas e provincianas. O tratado reduz-se a sebenta, a tradição a praxe, o saber a erudição. Não há um invento, uma ideia, uma teoria que tenha nascido ali. Mas nem os inventos, nem as ideias, nem as teorias são necessárias a uma Universidade que se basta no simples facto de o parecer aos olhos da ignorância colectiva. Por isso se defende com unhas e dentes de toda a originalidade, de todo o pensamento subversivo, recusando-se obstinamente a pôr de lado a borla e o capelo da mistificação, e a abrir nos seus muros medievais um postigo sequer que deixe entrar qualquer luz actual. Seria o pânico, a catástrofe, a desautorização. E sempre que algum reformador exaltado faz obras e remove estatutos, o instinto de conservação repõe sornamente o musgo secular nas cátedras da sapiência."
Miguel Torga, Portugal
Palavras-de-pedra que nos ficam.
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