"Em geral, nós, os russos, não fomos feitos para reuniões representativas. Em todas as nossas reuniões, desde o ajuntamento camponês até aos comités científicos de todo o género e outros, se não estiver ninguém à cabeça para gerir tudo, a confusão será sensível. É difícil dizer por que tal acontece: pelos vistos, é assim o feitio do nosso povo. Apenas são bem sucedidas as assembleias reunidas para festejar alguma coisa ou para comer, isto é, os clubes e os vauxhall à moda alemã. A disposição para fazer coisas, porém, existe certamente entre nós. Basta um súbito sopro de vento e logo organizamos sociedades de caridade, de incentivo e não sei que mais. O objectivo será maravilhoso, mas nada resultará. Talvez porque, de repente, logo no princípio nos demos por satisfeitos e achemos que já está tudo feito. Por exemplo, já temos nos cofres as consideráveis verbas doadas para organizar uma sociedade de beneficiência a favor dos pobres: para comemorar um acto tão louvável, oferecemos a todos os primeiros dignitários da cidade, de imediato, um almoço que obviamente nos leva metade do dinheiro do doado; com o restante, aluga-se um local excelente para a comissão, com aquecimento e guardas, e no fim restam cinco rublos e cinquenta copeques para os pobres, sobre os quais nem sempre todos os membros organizadores estão de acordo quanto à sua distribuição, já que há sempre alguém que faz passar à frente de todos uma comadre sua."
Nikolai Gógol, Almas Mortas
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